Um conto em homenagem a Lee Radzwill #soquenao
Eu nunca me preocupei com dinheiro. Esse foi um assunto que não se conversava em casa. Meu pai tinha um banco e eu na infância achava que ele fosse um pouco Tio Patinhas. Que ele trabalhava em um imenso cofre e ficava lá dentro contando dinheiro. Fui muito pouco ao escritório do meu pai no centro do Rio. Olhava aquele prédio alto quando eu passava na cidade e pensava lá no 12° andar está meu pai sentado na sua poltrona de presidente resolvendo seus problemas.
Quando o banco quebrou, eu já estava casada não precisava me preocupar com isso. Achava triste ver ele em casa durante a semana e muitas vezes fui almoçar com ele no seu jardim. Antes de ele morrer ele me disse: Minha filha você é muito rica, mas o que você tem de mais valor é o seu nome. Não deixe seu marido destruir isso. Jamais. Naquele momento eu falei, Imagina papai, ele é muito correto. Fiquei com pena dele o banco foi vendido ele não deu calote, mas não conseguiu admistrar tudo sózinho.
Hoje eu acordei e a casa estava muito silenciosa. Fui para minha sala de Pilates e minha personal estava lá e depois da sessão dei até um mergulho na piscina. Molhei meus cabelos tomei banho. Não seco cabelo com secador não é minha cara nunca fiz isso Cabeleireiro eu só tenho quando é dia de festa. Mesmo jantares eu mesma dou meu jeito. Às vezes me olho no espelho me acho interessante, mas bonita nunca. Tive sorte de casar com Cadú, ele me deu 4 filhos lindos e é um marido leal. Dos 4 filhos só um mora comigo. O mais velho mora em Londres, o segundo mora em São Paulo, o terceiro estuda em Boston e o caçula deve ir embora logo.
A casa estava vazia e acabei indo na cozinha e chamei Maria e ninguém respondeu. Não gosto de ir à cozinha, não sei cozinhar não tem nada para eu fazer lá, mas meu copeiro está de férias por uma semana e não tinha outro jeito. Quando entrei meu motorista que está comigo há uns 4 anos Edson estava sentado vendo televisão e sem gravata. Edson, bom dia você viu a Maria? Perguntei. Dona Lilian bom dia, ela foi até o mercado com o Antônio, mas já está chegando, posso ajudá-la? Não, está tudo bem. Ele sem gravata me perturbou.
Tomei meu café e fui para meu escritório que fica ao lado meu closet e fiquei vendo uns convites, recados, meu laptop e vi um papel, xerocado e comecei a ler e percebi que era o meu imposto de renda e fui lendo até chegar ao final e vi um número. R$197.872,489,00. Me senti estranha não estava entendendo cento e noventa e sete milhões, oitocentos e setenta e dois mil e quatrocentos e oitenta e nove reais. Senti um calafrio. Nunca eu tinha visto minha declaração de renda, além das minhas rosas e minha casa de Petrópolis que meus me deixaram eu nunca pensei que eu tinha mais nada. Ações do inventário, bens isso tudo não era muita coisa eu nunca pensi nisso.Havia algo errado. Apartamentos em Londres, Nova York , Paris, casa de Angra, tudo isso sempre foi um acréscimo normal no patrimônio do meu marido e dos meus filhos. Nunca pensei em dinheiro eu repito.
As horas passaram falei com a minha amiga Gisela que estava em Londres. Quando você vem? Ela me perguntou, não sei eu disse, talvez hoje. Será que ela sabia que eu tinha todo esse dinheiro? Maridos ricos tudo bem, todos eles são. Meu marido nunca me falou que eu tinha esse dinheiro em meu nome. Fiquei assustada. Lembrei-me do meu pai. De repente Maria entrou no meu quarto. Dona Lilian o motorista pediu para dar uma palavrinha com a senhora. Na hora, eu nem pensei e falei leva ele lá no escritório do Ricardo que eu vou lá.
Entrei no escritório ele estava em pé e ainda sem gravata. Pode falar Edson. Dona Lilian é o seguinte como a senhora sabe eu estou querendo comprar uma casa maior para minha família somos eu, minha mulher a minha sogra e mais 3 filhos e… Ele continuou a falar e eu fiquei intrigada com a falta da gravata. Dava para ver um cordãozinho de ouro entre os botões da camisa. Olhei para seu rosto e seu nariz pareceu maior que devia. Seus dentes eram maiores e sua boca carnuda. Ele tinha olhos verdes eu já tinha notado mas, o Edson porque você está sem gravata? Eu perguntei de supetão. Desculpe, Dona Lilian é que eu deixei pingar um café e manchou e está na corda secando. Espera aqui um pouco. Fui até o armário de Ricardo e peguei um gravata preta Dior e voltei. Toma aqui essa pode colocar e fica para você. Obrigado, ele disse dona Lilian, não precisava. Eu posso continuar? Não, eu disse. Coloca a gravata. Eu não sei dar o nó direito minha mulher é que dá para mim.
Eu me aproximei dele e disse, pode deixar que eu dou. Meu nome é Lilian Sampaio tenho 58 anos.